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segunda-feira, julho 14

Impressões pessoais e erráticas sobre a bola 

A existência objectiva de uma comunidade que partilha uma coisa subjectiva, que é uma fé comum num clube, transforma o futebol numa espécie de religião. Eu não fui agraciado com esse tipo de fé e por isso não tenho clube. Mas, visto de outra forma, há alguma vantagem nisso, também nenhum clube me possui a mim.

Este fim de semana fui rumo ao norte e passei perto do novo "campo de futebol" do Futebol Clube do Porto. É branco, o que contrasta com o negro do que estão a construir aqui em Coimbra. E provavelmente com as cores de muitos outros que há em construção pelo país. Apenas e só "campos de futebol," porque lhes eliminaram as pistas de atletismo. É triste que assim seja, porque estão a ser construidos com o dinheiro dos nossos impostos.

Mas não quero ser injusto. Lembro o Centro Cultural de Belém e a Expo 98. Lembro como nos fomos habituando e aprendendo a gostar deles e como acabámos por esquecer as críticas que haviamos feito, as quais foram muitas vezes conduzidas pelas agendas políticas. Acredito que irá provavelmente acontecer o mesmo com a Casa da Música.

Com os "campos de futebol" já antevejo o momento em que a Pátria Portuguesa se vai reconciliar com eles em nome do Orgulho Nacional e dos clubes de estimação de cada um (ena tanta maiúscula). E que felicidade será; "que povo tão empreendedor" dirão alguns...

Mas não é a mesma coisa. Só os tolos podem ficar presos a orgulhos nacionais de circunstância futebolística. Acredito que em Portugal o futebol tem sido um dos muitos impecilhos ao crescimento cultural. E não me venham com "Bolas," que essa estória já tem barbas.

Para mim, o futebol enquanto fenómeno generalizado, não é cultura no sentido moderno. É antes "uma cultura" como o são as da moda ou as culturas dos fãs dos grupos rock ou pop. Porque cultura é o que nos afasta da brutalidade, dos instintos básicos e do efémero. Ademais estas culturas envolvem muito comércio e massificação, sendo por isso também culturas alienantes.

Cada adepto vive as peripécias do campeonato e as realizações da sua equipa como fazendo parte da sua vida íntima. A sucessão de metonímias que nos põe dentro do campo a ganhar a taça com a "nossa selecção," ou a chorar e a procurar culpar alguém pela sua perda, pode ser fantástica em termos antropológicos mas não faz crescer a cultura dos cidadãos. É apenas e só circo.

Resistir é preciso. Cito de memória o presidente do Boavista, quando este ganhou o campeonato, que num momento de lucidez inesquecível terá dito "Sim é uma grande alegria, mas já tive outras maiores como o nascimento dos meus filhos..."

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