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terça-feira, janeiro 20

Liberdade de imprensa, internet e conversa fiada 

Aldous Huxley chama a atenção, no Regresso ao Admirável Mundo Novo (1957), para o facto de nos anos cinquenta do século XX já não haver a liberdade de expressão que havia no início do século. Nessa altura, segundo Huxley, todos os países democráticos se podiam orgulhar de ter um grande número de pequenos jornais, nos quais milhares de editores exprimiam milhares de opiniões diferentes. Nos anos ciquenta, embora a imprensa fosse legalmente livre, os custos do papel e da impressão eram demasiado grandes para os pequenos.

Chegámos ao final do século XX com o mesmo problema, muito embora com algumas variações. De facto, embora actualmente os elevados custos de impressão dos anos cinquenta sejam parcialmente evitados com os novos meios de edição, num mundo massificado e controlado pela publicidade, como é o de hoje, o que é difícil de obter é visibilidade. Usando uma imagem, antigamente os barcos pequenos não podiam navegar devido aos elevados custos de manutenção, hoje podem navegar, sim senhor, mas ninguém os vê no meio de enormes paquetes cheios de luzes e apitos.

Agora, com a Internet, este problema parece ter deixado existir. Os custos são quase nulos, a visibilidade consegue-se via mail e motores de busca, pelas citações, de boca em boca, de link em link, e nisso os blogues são paradigmáticos. O principal problema, da Internet, do qual Aldous Huxley também falou, embora a propósito dos media, é o grande potencial de distracção e alienação do homem. As notícias, a informação, a propaganda, já não são necessariamente falsas ou verdadeiras, podem ser também irreais e irrelevantes. As opiniões e as análises já não são apenas boas ou más, lógicas ou falaciosas, são também, muitas vezes, apenas tagarelice.

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