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quarta-feira, setembro 28

A Melga azul 

Hoje o Público vinha azul. Capa, contra-capa, 2ª página e penúltima página azuis. O azul fazia publicidade à empresa "Melga" (nome fictício) que, como mudou o visual, agora quer que todos o memorizem. Na capa, destaque para uma notícia sobre os sacos azuis de Felgueiras na página 2, escrita com letras brancas em fundo azul.

Não li a notícia. Recuso-me a ler uma notícia onde cada letra de cada palavra de cada frase é um anúncio, por estar com o fundo azul da empresa Melga.

Pior: tanto o título da notícia escolhida para 2ª página, como a chamada que é feita na 1ª página contêm a palavra “azul” (por via dos “sacos azuis” - será que a empresa Melga também está envolvida no caso Felgueiras?). E será que a escolha das notícias que merecem destaque de 2ª página e das palavras usadas nos títulos têm motivações publicitárias e não informativas? Se sim, belo jornal supostamente de referência, que tais concessões faz à sua liberdade de expressão!

Eu sei que iremos ver cada vez mais destas técnicas de marketing “inovadoras” e “de futuro”. Cada vez mais a publicidade se baseia no conhecimento científico sobre o funcionamento do cérebro, por forma a mais eficientemente e de modo inconsciente estabelecer em cada cabeça sinapses que liguem automaticamente a mensagem publicitária ao maior número possível de situações no dia-a-dia. Um dia, ao olhar para o céu azul ou para o sereno mar lembrar-nos-emos da empresa Melga e diremos não “que belo dia” mas sim “tenho de telefonar”. E os jornais, cada vez mais despudorados, usarão itálico ou maiúsculas para acentuar uma mensagem publicitária ardilosamente infiltrada no texto da notícia. Bem-vindos ao admirável mundo Melga!

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