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sexta-feira, março 30

O drama dos bichos-da-seda 

É impressionante como uma cambada de ovos guardados há meses numa caixa numa estante, consegue adivinhar, como que por magia, quando as amoreiras lá fora começam a ter folhas. Fazem-no de modo admiravelmente robusto, imunes a variações nada naturais de luminosidade: candeeiros à noite, persianas levantadas a horas estranhas, janelas fechadas nas férias...

O “timing” foi excelente: quando as folhas das amoreiras da escola começaram a despontar e nos lembrámos de ir ver a caixa, já se viam vários minúsculos bichos-da-seda, que depois de tanto tempo deviam estar esfomeados. No fim-de-semana, com a escola fechada e sem acesso às amoreiras, fui ao Penedo da Saudade procurar folhas, mas nada: as amoreiras eram de uma variedade diferente, era cedo demais. Nessa altura pensei no drama que seria se, por alguma razão, o relógio dos bichos-da-seda se adiantasse alguns dias relativamente ao relógio que regula o aparecimento das folhas.

No número de Abril da Science et Vie, que adequadamente saiu em Março, leio que esta dessincronização acontece com outras lagartas e, claro, pode acontecer com muitos outros seres vivos. É lá também que tomo conhecimento deste estudo, o maior de sempre deste tipo, envolvendo 542 espécies de plantas, 19 de animais e mais de 125 000 séries de dados de 21 países, onde se confirma que a primavera está a chegar cada vez mais cedo na Europa, de uma forma correlacionada com o aquecimento global.

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Alguém que me esclareça: 

É urgente e necessário apostar nas energias renováveis. Certo?
Mas como, e onde?
Parques eólicos destroem a paisagem e os eco-sistemas, painéis solares destroem a paisagem e os eco-sistemas, Centrais hidro-eléctricas destroem os rios, a paisagem e os eco-sistemas.
Então, como? E onde?

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terça-feira, março 27

50 medidas para (Declaração) 

Na Visão da última quinta-feira há um dossier sobre o aquecimento global (?) contendo 50 coisas que cada um de nós pode adoptar para fazer frente ao dito aquecimento (?). Percorrendo a lista verifico que ponho em prática a maioria delas: reciclo, não tenho ar condicionado em casa, praticamente não imprimo nada, tenho um contador bi-horário, utilizo lâmpadas economizadoras (apesar de as detestar), quase só compro legumes e frutos provenientes de agricultura biológica (que me custam os olhos da cara) etc etc.
Porque que me preocupo com um futuro sustentado e sustentável, com a poluição, com a economia dos recursos energéticos, com a quantidade de alergias das nossas crianças…

Não porque dê demasiada importância ao facto deste Inverno ter sido o mais quente desde há não sei quantos anos. O mês de Março até vai bem geladinho benza-o Deus.

E por isso, e por não me achar imbecil ao acreditar que se calhar as coisas são assim, porque são assim, que ao longo dos milénios a Terra já deu muitas voltas, independentes da vontade e da acção do homem... por tudo isso,

não me parece bem que os indefectíveis do aquecimento global me chamem negacionista, que é um termo utilizado para uma coisa muito feia e que eu nunca fui.

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segunda-feira, março 26

Obscenidade e liberdade 

As manifestações sexuais e a obscenidade não me incomodam por si próprias, mas tenho dificuldade em aceitar que sejam feitas em locais impróprios e perante crianças ou pessoas às quais possam causar incómodo. De facto, num mundo em que tudo parece cada vez mais baralhado, em que tudo parece aceitável e tudo é comércio, em que a lubricidade está por todo o lado, parece cada vez mais difícil distinguir o certo do errado. E com isso, como sociedade, só poderemos ficar cada vez mais infantis, covardes e vulneráveis.
Eis algumas situações que ilustram o que quero dizer e nas quais a obscenidade aparente não passa de uma obscena e pateta infantilidade. A primeira passa-se na esplanda de um bar interior da Universidade, na qual várias estudantes do primeiro ano, comandadas por duas outras estudantes mais velhas, andam de gatas por entre as mesas enquanto dizem alto e sem voz trémula: "sorri, f***!" De facto, o uso de forma alarve e despudorada do palavrão em público, e perante seja quem for, pelos estudantes é comum, mas esse a vontade infelizmente desaparece em situções de injustiça, nas quais deveriam ser mais reactivos e contestar de forma firme e séria. Outra situação passa-se no pavilhão do Centro de Portugal, no qual esteve uma exposição que tinha, avisaram-me na entrada, uma peça pouco própria para ser vista por crianças (e eu levava uma de dois anos). De facto tratava-se de uma instalação que representava uma sala de estar com uma televisão na qual uma jovem executava várias acções de carácter sexual numa sala idêntica aquela na qual estava a televisão. Noutro tempos, não muito longínquos, haveria uma multidão de gente para ver tal coisa e outra para a impedir. Aliás, talvez nem fosse possível estar tal instalação em exposição. Agora, ninguém quer saber dos esforços da atriz nem da artista. As poucas pessoas que lá foram por equívoco devem ter bocejado... E de facto o que era aquilo comparado com as acções da Marina Abromovic!... Finalmente, recentemenente, fui com os meus filhos adolescentes a uma loja com roupas em promoção. Ao chegar a casa notei que os forros das calças e saias que trouxemos tinham um padrão de desenhos minúsculos mas bem explícitos de posições de actos sexuais e ninguém nos avisou!
Nem de propósito, recentemente encontrei uma cópia de um livro que foi considerado escandaloso nos anos setenta do século XX: O Pequeno Livro Vermelho do Estudante de Soren Hansen e Jesper Jensen, edição portuguesa da Editora Afrodite de 1977, da responsabilidade de Fernando Ribeiro de Mello. A edição original dinamarquesa é de 1969 e é uma espécie de livro prático sobre sexo, drogas e relacionamente com a escola e a sociedade. Ainda não havia sida na altura, mas em boa parte os conselhos são sensatos, práticos e desassombrados, não se perdendo tempo com moralismos. E diz não ao tabaco, às drogas, ao álcool e ao sexo inconsequente. Aliás, analisa muito bem as várias situações de sexo que podem ocorrer entre adolescentes, clarificando as escolhas possíveis. Também indica como contestar de forma construtiva a escola se for necessário e, em todo o caso, como a suportar com paciência e aproveitar o que for possível. Este livro causou imenso escândalo em vários paises. Os editores inglês, francês e italiano foram multados e os livros apreendidos. O editor inglês chegou a recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, cuja decisão de 1976 não lhe foi favorável. Hoje em dia talvez ficasse soterrado por edições luxuosas do Código da Vinci, ou talvez não. Por que embora mais de metade do livro fale de sexo, e refira obscenidades e termos obscenos o seu assunto principal não é esse. O seu assunto é a preparação dos jovens para serem adultos e a forma de aprenderem coisas realmente úteis na escola, algumas das quais normalmente não se ensinam: ter a coragem de pensar realmente por si próprio e ser realmente livre e responsável numa sociedade democrática. E isso talvez continue a ser escandaloso. Resta-me dizer que não o mostrei aos meus filhos, mas, infelizmente, ou talvez felizmente, desconfio que eles lhe iriam ligar tanto como aos forros das calças!

domingo, março 25

O fantasma do rei Leopoldo 

Uma história de voracidade, terror e heroísmo na África colonial. Um livro de Adam Hochschild, edição da Caminho, 2002, com tradução de Manuel Ruas.

O rei Leopoldo queria uma colónia. Para isso fez-se passar por filantropo e manobrou exploradores e governos. Prometeu acabar com o que restava da escravatura (providencialmente nas mãos dos mouros) e levar o comércio livre e o progresso a um suposto estado livre do Congo, o qual, na realidade, ficou sua propriedade. No entanto, em 1890, Edmund Morel, leal súbdito britânico a trabalhar para a companhia Holandesa que tinha a exclusividade do comércio com o Congo, dá conta de que os barcos trazem marfim e borracha, mas apenas levam armas e oficiais. Descobre assim o que alguns, mas poucos, já haviam encontrado: que vigorava no Congo um sistema de trabalhos forçados recorrendo a voluntários, que, estima-se hoje, haveria de causar milhões de mortos. Morel horrorizado não se conformou e iniciou assim uma das primeiras campanhas humanitárias à escala planetária, a qual contou com o apoio, entre outros, de Conan Doyle e Mark Twain. O livro é vibrante e pelo meio ainda deparamos com Conrad e a certeza de que o senhor Kurtz e o Coração das Trevas são afinal muito mais do que ficção.

Este livro mostra bem os mecanismos de como se podem alardear cinicamente as melhores intenções e praticar inpunemente as piores acções. Mas, com algum optimismo, mostra também que um punhado de pessoas decididas, mesmo não estando ligadas ao poder, pode mudar alguma coisa (infelizmente nem sempre para melhor). Este livro retrata também muito bem o espírito da época, ainda não completamente desaparecido, em relação a África e aos africanos, mostrando as suas contradições e hipocrisias. Por exemplo, um heróico missionário americano continua afinal a ser tratado como um cidadão de segunda no seu próprio país. Também, como os maus tratos e as mutilações (os tristemente famosos cortes de mãos e cabeças) eram quase sempre realizados por africanos, simultaneamente vítimas e carrascos, há muito espaço para as boas consciências dos brancos. Por outro lado, com a suposta indolência dos africanos se justificavam pela via moral os trabalhos forçados. Mas não se pense que os massacres e os trabalhos forçados existiam apenas no Congo: também os havia nas outras colónias com igual violência. E não se pense que só os outros têm esqueletos nos armários. Basta abrir um dos nossos, ainda não muito antigos, livros de história para encontrar todo um conjunto de pacificadores das tribos africanas...

Este texto não tem imagens, mas a internet está cheia de fotografias relacionadas com o Congo do rei Leopoldo.

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quarta-feira, março 21

Dos metais 


Adorava a cor amarela do ouro, o seu peso. A minha mãe tirava a aliança do dedo e deixava-me tê-la na mão um bocadinho enquanto me falava da imperacibilidade daquele metal, de como ele nunca perdia o brilho. – Repara como é pesado – acrescentava. É ainda mais pesado do que o chumbo. – Eu sabia o que era chumbo, porque mexera nos canos pesados e macios que o canalizador deixara lá em casa certo ano. O ouro era também macio, disse-me a minha mãe, e, por isso, costumava ser combinado com outro metal para torná-lo mais duro.
O mesmo sucedia com o cobre – era habitual misturá-lo com estanho para produzir bronze. Bronze! Esta simples palavra soava-me aos ouvidos como o grito de uma trombeta, pois uma batalha era o estrondear destemido do bronze contra o bronze, lanças de bronze contra escudos de bronze, o grande escudo de Aquiles. Também se podia misturar o cobre e o zinco, explicou-me a minha mãe, para produzir latão. Cada um de nós – a minha mãe, os meus irmãos e eu – tinha o seu candelabro de sete braços de latão para a Hanuká. (O meu pai tinha um de prata.)
Eu conhecia o cobre, a cor rosada e cintilante do grande caldeirão de cobre guardado na nossa cozinha – a minha mãe só se servia dele uma vez por ano, quando as maçãs silvestres e os marmelos do jardim amadureciam e era preciso cozê-los para fazer compota.
Conhecia o zinco: a bacia para os passarinhos tomarem banho no jardim, baça e vagamente azulada, era de zinco; e o estanho, de que era feito o grosso papel estanhado que embrulhava as sanduíches dos nossos piqueniques.

Oliver Sacks “O Tio Tungsténio” (Relógio D’Água)

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domingo, março 18

Há dias assim 

Este inverno foi o mais quente de que há registo, ao nível global, segundo o NOAA.

quinta-feira, março 8

No dia Internacional da Mulher anuncia-se 


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quarta-feira, março 7

Da escola dos nossos dias 

O Francisco José Viegas reflecte no “A origem das Espécies” sobre as causas da violência sobre professores.

As coisas são sempre muito mais complexas (ou muito mais simples) do que o que parecem.

1- A “escola centrada no aluno” faz parte do mesmo pacote da "família centrada no menino", tantas vezes tão malcriadinho. Eu que tenho filhos de várias idades, costumo dizer, que os pais classe média de hoje, mais do que os de há dez anos, são uns totós, que para além do trabalhinho vivem para os meninos, quase os sufocando. Um drama porque o menino vai mudar de professor na escola, um drama porque o menino tem muitos testes esta semana. “Ainda temos que fazer os trabalhos de casa” Temos? pergunto eu - quem tem que os fazer é o menino, o papá pode quando muito tirar-lhe alguma duvida se ele a tiver.

2- Há um divórcio imenso entre a família e a escola, em caso de dúvida culpe-se a escola.
Os meus filhos frequentam uma escola privada onde não há, obviamente (e o obviamente para mim é óbvio) problemas de disciplina. Onde os pais confiam na escola e não contestam toda e qualquer medida que a escola pretenda tomar para manter essa disciplina.
Uma história ilustrativa: um dos meus filhos estava, juntamente com alguns colegas, a portar-se mal no refeitório. O professor que tomava conta do refeitório pegou neles e em vez de os deixar ir para o recreio, levou-os para a cozinha onde estiveram algum tempo a ajudar a descascar cenouras. Isto, que me foi contado ao jantar pelo meu filho, chama-se no regulamento disciplinar, fazer trabalhos comunitários, e foi-me explicado por uma amiga que para se aplicar essa medida numa escola pública é necessário o consentimento dos pais. Pasmei!
Infelizmente o bom senso não se vende.

3-Da minha experiência de professora numa escola EB23, recordo a falta de solidariedade entre professores, mais prontos a acusarem um colega de falta de autoridade (raiando a maldade e a zombaria disfarçada, na minha sala isso não acontece, não percebo porque se comportam assim contigo) do que a ajudá-lo e a adoptarem estratégias concertadas.

4-No ensino superior eu diria, e já aqui o disse, que é saudável que os estudantes protestem, que reivindiquem, mesmo que as reivindicações pareçam absurdas e exageradas; é função dos corpos dirigentes, dos professores e reitores, analisarem as reivindicações e decidirem sem populismo.
Em Coimbra já não há portas trancadas, mas lembro-me da vergonha que senti, quando pretendi levar um professor alemão à Biblioteca Joanina e deparei com a Porta Férrea fechada a cadeado.

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segunda-feira, março 5

A Semana do Sol 

No Museu da Ciência

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Ready 


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“As bolas de sabão” do Alberto Caeiro 

As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.

Alberto Caeiro

sábado, março 3

Hoje em Coimbra 

Workshop: “A contribuição do Sol para o problema do aquecimento global da Terra”.

sexta-feira, março 2

O poder da incerteza 

Al Gore no documentário “Uma verdade inconveniente” (ver também OceanOS):

“Foi feito um estudo exaustivo sobre todos os estudos científicos editados em publicações especializadas, revistas por peritos, sobre o aquecimento global, escritos nos últimos 10 anos. Pegaram numa grande amostra: 10%, 928 artigos. Sabem qual o número que discordava do consenso científico de que estamos a causar o aquecimento global e de que este é um problema grave? Dos 928? Zero.

O equívoco de haver desacordo quanto aos factos científicos foi criado de modo deliberado por um grupo relativamente pequeno de pessoas. Um dos seus memorandos internos foi passado cá para fora. Eis o que dizia, segundo a imprensa. O objectivo deles é: ‘Reposicionar o aquecimento global como teoria, em vez de facto’.

Isto já aconteceu antes (imagem no fundo: “Os médicos preferem Camel”). Após o relatório da Direcção Geral de Saúde... Um dos memorandos deles, de há 40 anos, dizia: ‘o nosso produto é a dúvida, visto que é a melhor maneira de criar controvérsia na mente do público’.

Mas terão eles tido sucesso?

Lembram-se dos 928 artigos revistos por peritos? Zero por cento discordavam do consenso. Houve outro estudo de todos os artigos na imprensa generalista nos últimos 14 anos. Analisaram 636 artigos. Mais de metade (53%) dizia: ‘não temos a certeza. Talvez seja um problema, talvez não.’

Não admira que as pessoas fiquem confusas.”


Eu também tenho dúvidas, mas procuro tê-las na exacta medida que o IPCC as tem (considero que o IPCC é quem representa o melhor conhecimento científico sobre o aquecimento global).

Aproveitando o poder da incerteza, deixo-vos com esta: com tantas dúvidas, não estaremos a ser anjinhos?

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