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quinta-feira, junho 25

O anúncio quinzenal de novas medidas no parlamento: um fiável indicador de falta de seriedade 

Não vou perder muito tempo a discutir as vantagens e desvantagens dos debates quinzenais no parlamento. Para abreviar, digo apenas que poderiam ser úteis se servissem para debater de uma forma civilizada questões que são importantes para o país, mas na prática são apenas mais uma plataforma de luta pela visibilidade nos media e de lançamento de sound bites. Parece-me que disso já temos que chegue todos os dias, não precisamos de usar o parlamento como mais um megafone. Acho particularmente esclarecedor e desagradável o desplante com que alguns participantes no debate não respondem às perguntas, como se o tempo perdido com manobras de retórica para evitar a discussão efectiva dos temas não estivesse ali a ser pago a peso de ouro pelo erário público.

Mas adiante. Este post pretende chamar atenção apenas para o que me parece ser o principal ponto de interesse destes debates: o de mostrarem, com uma clareza e regularidade assombrosas, a falta de seriedade de quem aproveita cada ida destas ao parlamento para anunciar novas medidas. Não consigo conceber estes anúncios senão como uma forma deliberada de tentar esvaziar o debate de ideias e retirar-lhe protagonismo. Debate esse que, lembre-se, seria a razão por que se vai ao parlamento num evento designado “debate quinzenal”.

Como num mecanismo relojoeiro, sabe-se precisamente o que se irá passar: os jornais e telejornais irão dar ênfase às novas medidas anunciadas, precisamente por serem novidade. O público engolirá o bombom noticioso (as novas medidas são invariavelmente boas na aparência) com a regularidade de um comprimido às refeições e prestará menos atenção ao debate, pois a duração do seu interesse é limitada. Invariavelmente a oposição é apanhada desprevenida e fica sem capacidade de resposta: não houve tempo para avaliar e reagir devidamente às novidades, sobretudo quando não se conhecem os pormenores. Se tudo correr como se espera, os comentadores nesse dia elogiam as novas medidas e quem as apresentou. Se não, o ruído gerado pelos comentários e as notícias das reacções às novas medidas abafam qualquer coisa que tenha corrido menos bem.

Quem apresentou as novas medidas tinha a informação privilegiada. Com a faca e o queijo na mão, podia apresentar tudo de surpresa num belo embrulho para fazer um brilharete e desviar atenções ou, se quisesse realmente debater ideias, podia ter apresentado as medidas com antecedência para que a discussão fosse eficaz. Mas não: como sempre, apenas tivemos direito ao embrulho para português ver. Acabado mais um debate quinzenal, como sempre, apenas faltou o debate sério dos problemas do país.

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