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sábado, fevereiro 13

Uma semana 

"A persistência da memória", Salvador Dalí, 1931

Outro dia, na televisão, comentava-se uma suposta mudança na atitude de Sócrates a partir de um determinado ponto de viragem algures no tempo, já não me lembro qual. Pessoalmente, duvido: para mim, este é essencialmente o mesmo Sócrates de há uma década atrás. O que acontece é que nem sempre se consegue ver para além das aparências, do cenário montado.

Estranhamente, em época de memórias de Terabyte que cabem no bolso, não se conseguem encontrar notícias de jornais antigos na internet. Felizmente há a memória das pessoas e o papel. Seguem-se extractos de um jornal durante uma semana da silly season de 2001.

Editorial "Um pouco de chá, senhor ministro", Público, 20 de Agosto de 2001:
"[…] Mas mesmo que fosse de um rigor a toda a prova o que ontem José Sócrates foi dizer à televisão, que toda a razão lhe assistisse e que a sua fosse a única leitura possível da Convenção de Estocolmo, isso não o autorizava a ser malcriado. Isso não o autorizava a dizer que uma notícia que objectivamente não desmentiu "distorcia objectivamente a verdade. Isso também não o autorizava a dizer que o Público desenvolve, sobre o assunto, "uma campanha". Este jornal não faz campanhas – informa. Por vezes essas informações não agradam a José Sócrates, político com alguma dificuldade de encaixe quando é criticado. Por vezes essas informações são incómodas, e a sua divulgação irrita quem já tem alguma tendência para se irritar em público. Mas isso é um problema que nos ultrapassa. […] Um jornal como o Público é pois um espaço de liberdade onde não devemos obediência a conveniências, mesmo de ministros. Mas a estes, antes de escreverem comunicados e irem à televisão, fazia-lhes bem tomar chá – o chá que, aparentemente, lhes faltou tomar em pequeninos."

Artigo "A insustentável arrogância do PS" de Eduardo Dâmaso, Público, 25 de Agosto de 2001:
"[...]É espantoso como no PS ninguém percebe os milhares de votos que perde de cada vez que o ministro Sócrates lança as suas ofensivas de determinação e inteligência nas televisões. O homem dá uma imagem decidida e combativa aos telespectadores, é certo. Mas a sua arrogância política é um espectáculo inaudito. Vítima de de todo o tipo de campanhas, ele ralha com as televisões e rádios por propagarem um notícia "absurda" do PÚBLICO sobre a co-incineração, ele discorre sobre as motivações alheias, ele esbraceja contra as campanhas que correm contra si, ele enrola-se nos trejeitos de uma gesticulação furiosa, enfim, o impacto visual e auditivo de tão ruidosa passagem pelos ecrãs é patético."

Logo ao lado, na mesma página, no "Sobe e desce", José Sócrates, então ministro do ambiente, tem uma seta para baixo e o seguinte texto:
"Sócrates representa algumas das coisas piores que a política pode ter, como a intolerância e a soberba. Num momento em que será exigível alguma humildade ao PS para reconhecer alguns erros da sua governação, o ministro do Ambiente limita-se a agitar fantasmas de campanhas e perseguições por todo o lado. É um caso típico e porventura insolúvel de um político demasiado deslumbrado com a sua estrela. O problema é que as estrelas também caem. Não se sabe quando, mas caem."
(H.P/E.L./E.D., Público, 25 de Agosto de 2001)

Na secção "As frases" do Público de 21 de Agosto de 2001 pode ler-se:
"Se eu estivesse na situação dele [Sócrates], demitia-me"
"Para ele, o poder está acima do resto"

Manuel Alegre, deputado do PS [em 2001].

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