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segunda-feira, maio 17

Ortónimo do gato de Pessoa: papagaio empalhado (não se veja aqui uma referência a um Coração Simples de Flaubert e blá, blá, blá...) 

Fernando Pessoa deixou-nos um gato; um precioso gato de poucas e sábias palavras...

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.


mas os supostos programas querem tranformá-lo no papagaio mais feio e ressequido que já alguma vez se viu. Os alunos até poderão tirar boas notas mas o gato foi-se...


FERNANDO PESSOA ORTÓNIMO Características temática, Características estilísticas - Características gerais Temas: O fingimento poético, Fernando Pessoa Ortónimo e a Heteronímia. Fernando Pessoa conta e chora a insatisfação da alma humana. A sua precaridade, a sua limitação, a dor de pensar, a fome de se ultrapassar, a tristeza, a dor da alma humana que se sente incapaz de construir e que, comparando as possibilidades miseráveis com a ambição desmedida, desiste, adormece “num mar de sargaço” e dissipa a vida no tédio.Os remédios para esse mal são o sonho, a evasão pela viagem, o refúgio na infância, a crença num mundo ideal e oculto, situado no passado, a aventura do Sebastianismo messiânico, o estoicismo de Ricardo Reis, etc.. Todos estes remédios são tentativas frustradas porque o mal é a própria natureza humana e o tempo a sua condição fatal. É uma poesia cheia de desesperos e de entusiasmos febris, de náusea, tédios e angústias iluminados por uma inteligência lúcida – febre de absoluto e insatisfação do relativo. A poesia está não na dor experimentada ou sentida mas no fingimento dela, apesar do poeta partir da dor real “a dor que deveras sente”. Não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de maneira a exprimir-se artisticamente e ser concretizado em arte. Esta concretização opera na memória a dor inicial fazendo parecer a dor imaginada mais autêntica do que a dor real. Podemos chegar à conclusão de que há 4 dores: a real (inicial), a que o poeta imagina (finge), a dor real do leitor e a dor lida, ou seja, intelectualizada, que provém da interpretação do leitor.
Características temáticas Identidade perdida (“Quem me dirá sou?”) e incapacidade de auto-definição (“Gato que brincas na rua (...)/ Todo o nada que és é teu./ Eu vejo-me e estou sem mim./ Conhece-me e não sou eu.”) Consciência do absurdo da existência Recusa da realidade, enquanto aparência (“Há entre mim e o real um véu/à própria concepção impenetrável”)Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção (“Eu simplesmente sinto/ Com a imaginação./ Não uso o coração.” – Isto) Estados negativos: egotismo, solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, náusea, desespero Inquietação metafísica, dor de viver Neoplatonismo Tentativa de superação da dor, do presente, etc., através de: evocação da infância, idade de ouro, onde a felicidade ficou perdida e onde não existia o doloroso sentir: “Com que ânsia tão raiva/ Quero aquele outrora!” – “Pobre velha música” refúgio no sonho, na música e na noite ocultismo (correspondência entre o visível e o invisível) criação dos heterónimos (“Sê plural como o Universo!”) Intuição de um destino colectivo e épico para o seu País (Mensagem) Renovador de mitos Parte de uma percepção da realidade exterior para uma atitude reflexiva (constrói uma analogia entre as duas realidades transmitidas: a visão do mundo exterior é fabricada em função do sentimento interior) Reflexão sobre o problema do tempo como vivência e como factor de fragmentação do “eu” A vida é sentida como uma cadeia de instantes que uns aos outros se vão sucedendo, sem qualquer relação entre eles, provocando no poeta o sentimento da fragmentação e da falta de identidade O presente é o único tempo por ele experimentado (em cada momento se é diferente do que se foi) O passado não existe numa relação de continuidade com o presente Tem uma visão negativa e pessimista da existência; o futuro aumentará a sua angústia porque é o resultado de sucessivos presentes carregados de negatividade As temáticas: O sonho, a intersecção entre o sonho e a realidade (exemplo: Chuva oblíqua – “E os navios passam por dentro dos troncos das árvores”); A angustia existencial e a nostalgia da infância (exemplo: Pobre velha música – “Recordo outro ouvir-te./Não sei se te ouvi/Nessa minha infância/Que me lembra em ti.” ; Distância entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração (“Tudo o que faço ou medito”); A máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar (“Autopsicografia”, verso “O poeta é um fingidor”); A intelectualização das emoções e dos sentimentos para a elaboração da arte (exemplo: Não sei quantas almas tenho – “O que julguei que senti”) ; O ocultismo e o hermetismo (exemplo: Eros e Psique) O sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu forma na obra Mensagem; Tradução dos sentimentos nas linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável. topo
Características estilísticas A simplicidade formal; rimas externas e internas; redondilha maior (gosto pelo popular) que dá uma ideia de simplicidade e espontaneidade Grande sensibilidade musical: eufonia – harmonia de sons aliterações, encavalgamentos, transportes, rimas, ritmo verso geralmente curto (2 a 7 sílabas) predomínio da quadra e da quintilha Adjectivação expressiva Economia de meios: Linguagem sóbria e nobre – equilíbrio clássico Pontuação emotiva Uso frequente de frases nominais Associações inesperadas [por vezes desvios sintácticos – enálage (“Pobre velha música”)] Comparações, metáforas originais, oxímoros Uso de símbolos Reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, mar...)- Coexistem 2 correntes:- Tradicional: continuidade do lirismo português (saudosismo)- lírica simples e tradicional – desencanto e melancolia - Modernista: processo de ruptura - heterónimos - Pessoa ortóniomo (simbolismo, paulismo, interseccionismo) Na poesia de Fernando Pessoa como ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Alguns dos seus poemas seguem na continuidade do lirismo português outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas. A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência de si implica (como por exemplo no poema Ela canta, pobre ceifeira nos versos “O que em mim sente ‘stá pensando./Derrama no meu coração”). Fernando Pessoa procura através da fragmentação do “eu” a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora absurda , Chuva oblíqua e Não sei quantas almas tenho (verso “Continuamente me estranho”). O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade, surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência. A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que com o fingimento, possibilita a construção da arte. (...) O fingimento poético A poesia de Fernando Pessoa Ortónimo aborda temas como o cepticismo e o idealismo, a dor de pensar, a obsessão da análise da lucidez, o eu fragmentário, a melancolia, o tédio, a angústia existencial , a inquietação perante o enigma indecifrável do mundo, a nostalgia do mundo maravilhoso da infância.O Fingimento poético é inerente a toda a composição poética do Ortónimo e surge como uma nova concepção de arte. A poesia de Pessoa é fruto de uma despersonalização, os poemas “Autopsicobiografia” e “ Isto” pretendem transmitir uma fragilidade estrutural ,todavia, escondem uma densidade de conceitos. O Ortónimo conclui que o poeta é um fingidor : “ finge tão completamente / que chega a pensar se é dor/ a dor que deveras sente/”, bem como um racionalizador de sentimentos.A expressão dos sentimentos e sensações intelectualizadas são fruto de uma construção mental, a imaginação impera nesta fase de fingimento poético. A composição poética resulta de um jogo lúdico entre palavras que tentam fugir ao sentimentalismo e racionalização. “ e assim nas calhas de roda/ gira a entreter a razão / esse comboio de corda/ que é o coração”.O pensamento e a sensibilidade são conceitos fundamentais na ortonímia, o poeta brinca intelectualmente com as emoções, levando-as ao nível da arte poética.O poema resulta ,então ,de algo intelectualizado e pensado .O fingimento está ,pois, em toda arte de Pessoa. O Saudosismo que se encontra na obra de Pessoa não é mais do que “vivências de estados imaginários” : “ Eu simplesmente sinto/ com a imaginação/ não uso o coração”.Fernando Pessoa Ortónimo e a Heteronímia Ricardo Reis- epicurismo: carpe diem e disciplina estóica - indiferença céptica; ataraxia - semipaganismo; classicismo - vive o drama da fugacidade da vida e da fatalidade da morte Alberto Caeiro- paganista existencial- poeta da Natureza e da simplicidade- interpreta o mundo a partir dos sentidos- interessa-lhe a realidade imediata e o real objectivo que as sensações lhe oferecem- nega a utilidade do pensamento; é antimetafísico Despersonalização Fingimento Álvaro de Campos- decadentismo: o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações- futurismo e sensacionismo: exaltação da força, da violência, do excesso; apologia da civilização indústrial; intensidade e velocidade ( a euforia desmedida)- intimismo: a depressão, o cansaço e a melancolia perante a incapacidade das realizações; as saudades da infância Pessoa Ortónimo- tensão sinceridade/fingimento consciência/inconsciência sentir/pensar- intelectualização dos sentimentos- interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade- uma explicação através do ocultismo...


(texto composto a partir daqui: http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/pessoa_orto.htm. Não está em causa o rigor das análises; apenas da sua utilidade prática para formar melhores cidadãos capazes de gostarem de poesia e deixarem um sulco pessoal e competente no mundo)

Comments:
Quero apenas deixar testemunho do meu apreço pelo seu posting. O Gato Schrodingiano e Pessoano é bem real, está entre nós, e pode bem ser que seja elevado o número dos que estejam, e que sejam na sua maior espessura, mais sensíveis às condições iniciais e experimentais, vale dizer, aos factores ambientais, do que se pode representar.
Msjbreda
 
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